17 de março de 2010

A menina veio
Como num quadro
Do holandês louco
Ficou pouco
Uns três orgasmos
Talvez
Mas fez a maçã
Parecer inocente
E destilou na semente
Cianeto em sorrisos

Outra menina veio depois
E depôs
Em juízo
Que não fora preciso
Arrombar a porta:
A natureza já estava morta...
No princípio era a carne
Sã e boa
E tava atôa
Na areia
Num decúbito
Arrebatadoramente volumoso

Depois, mamadeiras
Contas a pagar
E um ar de never more
No periquito
Ainda vou fazer
Uns poemas de saudade
Mas antes quero sentir
A nostalgia do não vivido
Para poder entender
Como é sentir falta
Do que não tive

Depois vou tomar
Um porre destes
De pra quê tanta
perna, meu deus?!?,
E me sentir envolvido

Depois, quem sabe,
Olvido esta besteira
De te sentir falta
E me dou alta
Desse teu hospício
O seu olhar
Deu tanto nó
Nas minhas tripas
Que nem as ripas
Das costelas
Escaparam sem defeito

16 de março de 2010

os poros sensatos
não soltam gemidos
mas soam em alto
e bom tom
vermelho mordida
a pele fendida
ainda salgada
confusa na carne
encruzilhada


(é tanto caminho
se encontrando
que fica difícil
ser encontrado)
deixe estar teu sorriso
deixe
que é preciso
estar
alguns sorrisos a mais
alcoolizado
deixe a pupila
da tua língua dilatada
de falsa surpresa
diante da minha

agora vai ser assim
toda cena de amor
vai ser pretexto
pra eu sair do texto
e de mim

(sinto falta
de sal nos meus olhos
já não choro mais
apenas assusto fantasmas
com hurros profundos
e descrevo por dentro
primaveras que não vi)

assim a idade
Vai amortecendo os fatos
e a morte
a Penélope dos anos
me espera entretecida
em panos
encharcados
de perfumes baratos
Céu da boca:
O infinito
Brinca de mim
mãe cadê as putas
Cadê as uvas
Onde estão os corpos na grama
As cinzas dos baseados
os acampados do jardim
Mamãe cadê os vinhos
Onde estão os ovinhos
De Páscoa e o cheiro de licor
E fumaça
Nos bigodes de papai
Mãe onde estão os dados
Viciados da vida
Onde estão as corridas
De domingo de manhã
Pelo jardim à beira mar
Meu Deus, mãe
Até as putas envelheceram
Só têm pelancas
Não têm mais ancas
Para me sustentar
Tragam-me novas putas
Mais baseados
Ergamos muralhas
De cadáveres e de
garrafas vazias
Mas não deixemos
o tempo aqui entrar
Queria ser apenas
O poeta de todas as horas
Todas incongruências
Todos os ângulos
Das tuas virilhas
Das tuas ervilhas
Nossa incivilidade

Queria ser apenas o poeta
Nada mais
Mas esqueci de dizer
A palavra mágica
Aquela que brota
Ventríloca
Longe dos lábios
Surda e sibilante
Como se vazasse
Do sexo saciado
Inchado e solitário
Do pós coito

Queria ser o poeta
Das tuas loucas horas
Das hordas
que se movimentam
Nos teus desejos
Mais devastadores

Queria ser teu poeta
Sem mais nem menos
E te domar
Entre as palavras
Como montaria
E desespero

4 de março de 2010

Esta é uma pergunta
De quando eu tinha
sete anos
Como nunca
ninguém respondeu
Continuo fazendo:
- Se todos no mundo
Têm seu par ideal
E o número de
Pessoas for ímpar
O excluído serei eu?
Enfrento os calhaus do teu sorriso
É que eu preciso sobreviver
Assim prostituído e casto
Um misto de profundidades
E queijo fundido a frio

Me intimido de uma intimidade
Faminta, aguda,
úmida por dentro e
Fora de mim te olho de balaio
Pois de soslaio ilumino minha sina

Será necessário sustentar teu
Olhar a cruzeiros
Ou ver navios é típico de cruzados
que fazem moquecas de moinhos
em cada confronto que calhar
dos olhos d´água com a roda
que mitiga tudo
o que vale uma pena?

Enfrento os calhaus do teu sorriso
E quem sabe preciso - um dia
Dizer como se poeta fora
Que tinha um cisco
no olho molhado
ou apenas que havia tropeçado
no meio do caminho...
imagino se minha carcaça velha
e putrefata por dentro aguenta
um vexame de borboletas
em disparada cardiorespiratória.