31 de dezembro de 2011

No íntimo ela parecia ter gosto
Assim de chá de maçã verde
E desastre iminente
E era como se a gente
Já conhecesse toda miséria um do outro
De longos telefonemas
Ou noites em claro diante da câmera
Na verdade tinha ela
Acabado de dizer seu preço
E eu estava justamente
Pensando qual seria o próximo passo
Se dizia não com o asco da delicadeza
Ou me punha na mesa
em vinténs

26 de dezembro de 2011

poema para uma ceia de natal (da série de diálogos com os poemas de Eli Macuxi)

Ele saiu impecável
O paletó de linho
A gola engomada
A garrafa de vinho
Sentou-se embaixo
Da arvore de natal
Da cidade segurando
Um laço de fita azul
Fitou longo tempo o sul
Depois o norte e todo
O mapa cardeal inutilmente
Seu sorriso aos poucos
Não se fez mais presente
triste desfez-se do laço
Bebeu todo vinho
E se deixou dormindo ali mesmo
Num banco do caminho

23 de dezembro de 2011

As pessoas precisam ser assim
Um pouco como Eu
Para que meu mundo
Possa existir
e possa haver razões
Ainda que equivocadas
E paixões avassaladas
Ou não

As pessoas precisam ser assim
Um pouco e muito erradas
como frutas cansadas
de estar no pé

As pessoas precisam ser assim
meio viciadas
muito apaixonadas
seja lá pelo que der e se for
elas precisam de amor
pra dar e vender
precisam viver
que a vida é pouca
e deve ser louca
ou internada

As pessoas precisam ser assim
Possuídas e expostas
Como respostas
A uma pergunta não feita
A gente é um pouco de quem deita?

As pessoas precisam ser assim
Misteriosas e sutis no gosto
Rescendendo a mosto
De uvas selecionadas
Precisam ser pisadas e reprisadas
Em câmara lenta e ousada

As pessoas precisam ser assim
Infinitas
Porque são odiosamente bonitas
Mesmo quando feias

As pessoas precisam ser assim
Um pouco como as vejo
Como incompletude solidão e desejo
Mas precisam ser imprecisamente como são
Porque Eu só existo nessa condição