23 de abril de 2013

(para uma recém amiga)

Fui tudo isso num só dia
Me travesti de ti também em artimanhas
Agora sei quanto ganhas
O quanto gastas dos teus sapatos
Procurando por ti mesma
Sei quais são teus pratos
Preferidos e os pedidos que
Fizeste para papai Noel
Mas não tenho um papel
Nessa tua vida sem nexo
Não tivemos nem mesmo o sexo
Fugaz de uma festa
Tudo o que me resta
É acreditar que és possível
Que teus absurdos são humanidade
E que viver é mesmo estranho de verdade

18 de abril de 2013



Desinibia vermelhos pomos
na discórdia voraz das partes
e sabe lá por que artes
ensinava o vôo dos livres
às presas de encantos
e sortilégios das carnes
deslumbrou-a a fragilidade aguda
de um gesto de mão única
e o som da pele a retumbar

nunca mais quis apenas ensinar

11 de abril de 2013

Cortava maio olhos ressaca
em versos travessos meia lua
de céu suada salgada maca
insanidade na carne crua

De crueldade sorria pele lanhada
à unha de mel sugada rubro cantar
a seiva de sentimento estrelada
via de fato direito torto mordiscar

Derme do vento dar-se e receber
os dentes sonho e estremecer
de folhas primavera dos cheiros

Cada palavra chutada para amanhecer
meio cunha cunhada a verbo enaltecer
rósea de ouvidos cantiga de travesseiros

10 de abril de 2013

Corria abril a olhos de lince
quando se deu conta que tinha fome
fome de gente que come gente
fome de um ente querido de morder
fome de escrever na pele lembranças
e outras andanças do escorrer
fome do gosto do cheiro
que é quando alguma coisa
parece ainda mais apetitosa
pelo cheiro do que pelo gosto
fome de esconder o rosto
nas palavras mais sujas
e gritar as tais cujas
sentindo a explosão dormente
fome de semente
e da mão forte
malinando puxando
agarrando submetendo
o que não é mais seu
de tão mesclado
fome de chegar do outro lado

2 de abril de 2013

Sem estrondo nem dilúvio
acabou o sal e a ferida
nem vazio nem saída
apenas um ronco surdo
numa máquina desgastada
velha num porão barulhento
e empoeirado do corpo lasso

a hidráulica deficiente
não proveu de lágrimas
o chafariz da praça de eventos
apenas os olhos fechavam-se
de vez em quando estupefatos

tudo tem fim dizia uma voz
de aeroporto cancelando viagens
e um tumulto de imagens
do ainda porvir rolava no pó
daquelas já vistas centenas de vezes
com a certeza do infinito e além

uma tontura de saber-se solto e rude
arranhava a garganta por dentro
como um lamento de chorinho
de um compositor desmotivado

Não havia mais nenhuma sorte
nem dois lados na moeda
apenas a queda
infinita
e in
di
fe
rente
ao desespero
de saber-se acordado

e sem rumo