29 de outubro de 2013

devora-me
ou te decifro
e caímos na rotina

24 de outubro de 2013

MEMÓRIAS PÓSTUMAS



Sou apenas um pedaço de papel virtual
Virtualmente desvirtuado
Pelo tempo espaço e sua relatividade

Sou apenas metade do que queria ser
E sonhava estar dizendo isso pessoalmente
No entanto não estou mais
Não sou mais
Não mais um corvo
Um estorvo
Uma resposta

Fui ser gordo na vida
E ela se fartou de mim
Me tornou o que outros foram
O que disseram e consagraram

Trabalhei
Sorri
Sofri
Saí da caverna para o beco
E deu tudo na mesma

Preciso matar o poeta dentro de mim
Antes que eu mesmo morra
De lirismo agudo
Olhando tudo com a cândida expressão
De quem jazz apalermado
Vendo a cidade atuar diante dos olhos

De Raimundícies poderia ter sofrido
Sendo professor e professando
Pessoas em Camões e Caminhas
Mas essas adivinhas e lorotas
Peças que a seriedade nos prega
Estão a ver navios como os que não vi

Pois o pouco que sofri
Foi de não ter sido milionário
Foi de não ter sido operário
Foi de não ter sido um milhão
Que sempre quis ser

Agora poeta da própria ausência
Declaro aberta minha falência   


Poder de asas no batom
E a força de dez mil megatons
Na voz daqueles lábios
De engano bom
E doce

Agora
danou-se


Coisas que preciso fazer
Antes que a poesia seque
Na pele e nos olhos baços
Do universo em decomposição
E eu não mais consiga reencontrá-la
Em primeiro lugar furar a fila
Indo direto ao segundo
Em que conheci a paixão
Isto é
Reviver todo dia
cada novo momento
Da vida
essa coisa promíscua
que me fez poeta
desejo
fogo
e palavra

17 de outubro de 2013



Cega o passarinho o espinho
Da flor já murcha de tanto
olhar a estrela límpida
No encontro seco
de céus e terra esturricada
onde jaz uma ossada
tão branca tão branca
Quanto a poeira do esquecimento

1 de outubro de 2013



Não nem pense nisso
Esquece o sofá e suas culpas
Esquece as almofadas
Que fadas não são
Não entorne baldes
pelos corredores rumo à cama
não há corredeiras ali
nem aventuras arriscadas
ponha a periguete numero três
vermelha escândalo
divida um copo de cachaça
com um santo
e venha pra rua



Já me perguntei e ao espelho
Tantas vezes quem sou
Na língua do p e na de sinais
Que não posso esperar mais
Uma gloriosa resposta

Sou minha própria aposta