26 de julho de 2010

Quero me esvaziar do mundo
Não parem
Não quero descer
Quero apenas o vazio
Da fome
Do frio
Da escuridão sem nada
Mas quero continuar girando
Em rotação e translação
Como todos
Não quero a cegueira
Que já seria algo
Nem folgo em dizer
Que gostaria de me saber existindo
Queria apenas um lindo
Esquecimento
Um momento
De não saber coisa nenhuma
Apenas a bruma
Do desconhecimento e da ausência

14 de julho de 2010

O que me importa se
sou mulher quando seduzo
e homem quando possuo
a minha natureza é torta
e vivo de sofrer transformações

13 de julho de 2010

abater um dedo com
a rosa Os espinhos
São internos
Que tem demais

Em pedir direito
A gente preda
a mão pedindo
porque não o lindo

A boca do leão
Entrega-se à noite
Dos teus traços
Meu copo denota

o teu perfume
entender finamente
a razão da existência
O universo é penetrável

12 de julho de 2010

Adoto um poema

Pode ser branco preto
Mesclado amarelo
Indigenista ou não
Pode não ter cabelo
Pode até ser um apelo
Aos sentimentos mais maternais
Não consigo conceber o verso
Que me arrebenta a garganta
E preciso experimentar
Porque o relógio biológico
Exige que eu tenha
Um poema meu
Dado
Vendido
Contrabandeado
Se for o caso
Não precisa ter rimas azuis
Nem ritmos encaracolados
Pode ser qualquer um
Ter pedras ou vir de paragens distantes
Onde as prostitutas e as palmeiras
São amigas bonitas e andam de bicicleta
Pode ter o olhinho puxado
E ser mirrado
Como um haiku

Adoto um poema
Que precise de pai

8 de julho de 2010

Um poema de pé quebrado
Pousou torto
Nos meus umbrais

Na hora não dei nota
Do ocorrido
Mas sentindo condoído
E achando que domesticaria
Dei água
Comida
Afeto e limpei
Seu ferimento
De aspas ponto
E artigo indefinido

O alimento não era apropriado
O afeto o fazia contra-ír-se todo
E o poema morreu
Entalado na garganta

Na hora a dor nem foi tanta
Nem sequer tínhamos recém nos conhecido

Mas a doença do pé destruído
Era contagiosa
E o poema no céu de não mais
Deste meu mundo

Virou prosa

4 de julho de 2010

Não filha
Nem sempre é sempre
Não
As vezes é sim
Ou talvez

Tem vez que a gente
Nem sabe o que fez
Mas acaba sendo

O mundo é gira
E a gente não sente
Muito quando
Incorpora
O agora

As vezes somos
O que já foram
Antes de nós
Conosco

Em outras polvilhamos
O mundo de idéias
E fatos que se renotam

Mas acertamos sempre
Ainda que em errar
Judeando a sorte

Não filha
Nem sempre é sempre
Sim
Ou não
As vezes é a vez
De estar lá

Ou já era