Eu sou um pouco
da imortal loucura
portanto não sou cura
para quem diz ouvir
estrelas
catando comida entre
detritos
sou mais os gritos
de lirismo dos bebedos
clonados de Shakespeare
que zombam dos outros
ainda que já não
possam beber
já não possam fumar
cuspir já não possam
já não possam fumar
cuspir já não possam
Hoje dos meus cadáveres
eu sou
O mais desnudo o que não tem mais nada
O mais desnudo o que não tem mais nada
Da vossa piedade estou
despido
Porque quanto mais
tenho delinquido
Já não vejo no meu
peito morto
Um punhado sequer de murchas flores
Um punhado sequer de murchas flores
Olho o mapa da
cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo
Este excesso de
realidade me confunde
Em mórbida languidez
me banha os olhos
Ardem sem sono as
pálpebras doridas
Convulsivo tremor meu corpo vibra
Convulsivo tremor meu corpo vibra
Ah Basta isto porque
isto é que origina
A lágrima de todos os vencidos
A lágrima de todos os vencidos
Não há falta na
ausência
Oh mar salgado quanto
do teu sal
são lágrimas de
carnaval
Ainda assim navegar é
preciso
Ponho o meu sonho num
navio
e o navio em cima do mar
e o navio em cima do mar
Mas vem o vento que a
Desgraça espalha
E cobre-me com o pano da mortalha
Que estou cosendo para os meus amores
E cobre-me com o pano da mortalha
Que estou cosendo para os meus amores
Quis vivê-los em cada
vão momento
antes e sempre e com
tal zelo
que deles se encantasse
mais o pensamento
Irmão das coisas fugidias
não sinto gozo nem tormento
minha vida está
completa
E eu não dei pela
mudança
Dou-lhe o meu canto
louco faço
um pouco mais do que ser louco
um pouco mais do que ser louco
O único remédio
É adiar tudo É adiar a sede a fome a viagem
É adiar tudo É adiar a sede a fome a viagem
me apaixonar por um
outro eu
que não tinha entrado
na história
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