Estranhamente o homem
curvado
não sentia apenas a
dor da pancada
sentia no corpo toda
dor do mundo
e na cabeça uma tristeza
ampliada
pelo sofrimento de seus
camaradas
Internamente o homem alquebrado
não sentia as próprias
vistas toldadas
ainda tentava entender
tudo admirado
com o calor dos olhos
apimentados
esteticamente o homem da barricada
era um conjunto de
membros dobrados
estranha aranha tosca
quase esmagada
fugindo de si para o
calor da calçada
penosamente pobre homem improvisado
nadando vermelho no
sangue espalhado
era menos ameaça à
ordem constituída
historicamente o homem fotografado
na intimidade daquilo
que acreditava
queria uma vida melhor
a que levava
com muito amor e um céu
enluarado
um violão cantigas de
povo educado
Em sua mente cavalgando na utopia
esse homem pensava
salvar a minoria
do jugo da galhofa e do
preconceito
mas de revolução não entendia direito
repetiu coisas
estranhas e sem sentido
dessas de fazer rir e
de doer o ouvido
abaixo os partidos ele mesmo partido
ao meio no meio do
meio-fio rachado
abaixo tudo e querendo
tudo abaixado
não percebeu ser instrumento contrário
à revolução
pretendida e tão sonhada
suástico em sua triste pequena jornada
incorporou o mártir do
golpe nazifascista
e nesse dia tornou-se
capa de revista
pensando bem no triste
homem derrotado
e nessa coisa de fábula
ter apenas animais
penso que ainda assim
nunca é demais
tirar daqui uma lição
e um bom recado
se for fazer protesto só por estar entediado
é melhor ler qualquer
livro mais adequado
que ganhar jogando e
defendendo time errado
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