Nesse vinte e um de dezembro
Faz um ano que o mundo não acabou
Não se acabaram as esperanças
Não se acabaram as lembranças
Não acabou o porvir
As pessoas boas continuam acontecendo todo dia
As coisas boas continuam acontecendo todo dia
ainda é lindo por do sol sobre o mar do Arpoador
A dança das baleias e seus gritos misturados
Aos das aves marinhas e ao rebolar das ondas
Sobre a areia num sambismo infinito
O amor dos amantes abaixo de céus e terras
E de um Shakespeare conformado
nunca se transformou em casulos e borboletas
a sagrada família do burgo continua reivindicando
o direito à exclusividade do existir e à exclusão
o louco pedinte da calçada anuncia
num pedaço velho de papelão
o que não aconteceu deveras
Os filmes de Hollywood continuam chatos
E os livros de auto-ajuda imóveis na prateleira
Não criaram vida nem se suicidaram
(o que talvez deponha contra a dita
ajuda que prometem se dar)
o pão colonizado do bolor de memórias
de dois ou três dias atrás não parece triunfante
antes teso de uma tesão mortal e triste
O ar morno da tarde cheira a sexo onde há flores
E café deixado no copo e mesmo assim
As pessoas trabalham construindo o inútil
Não há fim
Não há quebra da ordem
Nem medos e histerias que não sejam
o comum
ponto com
Do dia a dia
É de se sentir falta do desespero da última colheita
Do aviso de despejo do planeta
Do beijo último sobre o gozo final
Celebrando a fertilidade da terra pagã
Onde não mais brotará a manhã
Alguém por favor providencie um novo fim do mundo
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