No dia em que minha alma adolesceu
Deixou de ser perfeito o amor
Tomado com olhares e gosto artificial
de uva ou chocolate no intervalo das aulas
Mesmo assim amei com pernas e bocas
como podia
fui me deixando amar como as pedras
que rolam com o som diferente
das bolinhas de gude se entrechocando
E fui percebendo
que mesmo as pedras param de cair
começam a amar de lado
à prestação como quem compra geladeiras
fogões e carros de concessionária
Ainda aí amei com as floriculturas
as fraldas e uma sensação de incompletude
que me amava também segundo dizia
Depois quando via o amor entre compromissos
comecei a achar que tinha vícios
vicissitudes e outros quitutes do engordar
mas não tinha o mesmo paladar
de tempos idos
os temperos estavam perdidos
os gostos mudados
A verdade é que à medida que
a impossibilidade aumentava
me via mais e mais a lembrar
do gosto real que havia de uva
chocolate ou chuva
bebidos com olhar
hoje o amor tem o gosto
disso tudo
e me perco pensando
em como é difícil amar
e ser amado
Um comentário:
sim,
de sorte também se fez a vida
repartida em cada gota
em cada gesto
amar é ato
abstrato
porque amor
é a liga que une
a alma ao corpo
é o que nos mantém vivos
na ilusão da eternidade
quando o afeto não mais nos toca
e perdemos o porto
quando a vida sobra e cada instante
sossobra nossa pele duvidosa
quando o amor, jovem ou velho
é morto
e nenhuma saída parece honrosa
é hora de respirar e seguir em frente
deixar que a vida siga com a corrente
que a alma se despregue um pouco
e vague a esmo
um dia a dor passa
e é bom olhar o retrovisor por pirraça
de quem sozinho venceu a morte
e alegres alegar que sim
amamos sendo amados
tivemos sorte!
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