O perfil transfigurado do justo
Quando a justiça é perfeita
As mãos atadas do poder
Divino ao acaso
O caso da criança
Que pulou –não pulou –
Da janela com a raiva do Pai
As estranhas entranhas do silêncio
Movendo-se em linha desesperada
Trinta metros até a calçada
A quietude dos dias de Pompéia
Onde estariam agora
A perna da boneca perdida?
As loucinhas de plástico?
Um ursinho de pelúcia meio zarolho que todo mundo achava feio
mas não dava pesadelos?
O que ela faria
Agora, quinze anos, depois?
Tomaria um chopp?
Venderia o corpo?
Estaria num shopping?
Prepararia seu TCC?
O enxoval?
A justiça perfeita dos homens
Ainda não foi estabelecida
Entre as divindades.
3 comentários:
Miba
Esse poema transforma tragédia em beleza, ou eu que vejo tragédia em tudo? De todo modo, que tamanho nó na garganta me provoca!
A rima "desesperada/calçada" dá um ritmo que remete à queda... "Loucinhas de plástico" é minimalista e nostálgico, e a sequencia de possibilidades - frustradas pela morte que veio cedo - é de tirar o fôlego.
O que mais gosto num poema são as frestas por onde uma história se apresenta e o teu, nesse sentido, está completo!
Roberto, retire a vírgula depois de "homens".
Charles.
Ok, obrigado!
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