O dia dos namorados passou
e um poema não foi publicado
a sua carne mais branca
amassada de travesseiro
esperando a tinta do desejo
quedou-se na lata de lixo
da inutilidade simbólica
Os orgasmos abandonados
na prateleira mais alta
dos sons animalescos
esqueceram de existir
Os cheiros da importância
do outro na existência do eu
a vaca do tempo lambeu
ou derramou no chão memória
Agora resta saber se virá um dia
num pote no final do arco
da tua íris ou no barco
em que é preciso navegar
um fortuito encontro ou lugar
em que a paisagem insaciada
pela beleza da boca molhada
se transforme em mar agitado
ou em represa que arrebenta
e que uivando se reinventa
toda hora em todo lugar
2 comentários:
Engraçado, Mibi, mas teu poema pareceu fugir tanto do meu...
e me inspirou a escrever algo muito diferente:
Choveu
um dia depois
e quando se desfez
o caminho a dois
era hora de não olhar
pra trás
A saída foi zarpar
e zás
Salvar tudo
na memória
com o nome
"aqui jaz".
Se choveu amiga minha
nem vi pois estava enrolado
no útero vago no encaracolado
da pré existência
nem tive ciência
de que o passado passava
e que me amaldiçoava
o existir sem limites
do amor amputado
apenas uma cena trágica
correndo na cabeça esvaziada
fruto da mágica
do desaparecimento com despedida
e do vazio de toda uma vida
pela frente
para MM
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