31 de agosto de 2005

alguma poesia...

Espaço incógnito
Nomes de praças e ruas
Até o umbigo

Depois rota única
O campo

(fondue -2005)
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Função/ões da linguagem
Necessidade de dizer coisas:
Os navios não encalham
na lua cheia

não é a maré
(nem a visibilidade que melhora)
é a distância
que é grande mesmo

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Pêlos e mergulho
Nunca voltar à tona
Nunca morrer de verdade

(fondue - 2005)
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Anamorfose


Condições sine qua non
Para poder estar aqui com você

Não estar cá com os meus botões
A matutar na morte do Bezerra;

Não ter ido ao enterro, nem ao velório
Porque ele pode ter morrido tarde
As festas fúnebres costumam
Entrar noite adentro

Não aceitar um provável pedido
da possível mãe pra conduzir
o féretro e as cerimônias que
podem estar acontecendo agora;

Não ter nunca sequer conhecido
o Bezerra, nem os seus,
pois teria remorsos
e isso não combinaria
com os sons da tua pele;

Ter podido retirar o dinheiro
No caixa eletrônico
Pra pagar o motel e a bebida cara
Se o Bezerra tivesse
Chegado no banco pra depositar
antes do infarto


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Quando nos vemos
Repartimos tudo
Inclusive as horas

Por isso o tempo voa


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Vi uma boneca de plástico
Jogada fora,
num rio de uma favela em São Gonçalo
Perfeito bebê boneca atirada
Abandonada
Boiando no dia seguinte
Ao dia das crianças
Num lugar onde quase ninguém
Ganhou nada

Estaria morta?

(manequins - 2004)
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Difícil não falar do plástico
Nos corpos ali derramados
Entre a valeta a loja
E as marcas da violência
Já quase marrons no muro

O vestido da noiva rasgado
Em diversos tons de lama

O dia a dia continua
E juntar trapos
Não mais surpreende
Em época de enchente

(manequins -2004)



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Nutrir o caos com leite do peito
Até aos seis meses
É possível para ambos os sexos
E propõe um futuro
Absolutamente sem garantias


(maternidades - 2005)

Um comentário:

Ler o Mundo História disse...

conseguiu!
bem vindo a esse mundo doido do blog! agora temos de aprender a logar um no outro, linkando os bacanas, a andrea Mota tem um lindo que se chama jardim de poesia.
beijos
Frô