25 de fevereiro de 2016

Fiz essa croniqueta inspirado no contínuo e lindo escrever de Sheila e Samara, mas, e também em resposta àqueles (as) que dizem por aí, a título de desculpa, quando flagrados em suas pequenas corrupções diárias ( parar em fila dupla pra deixar os filhos na escola, furar fila, pagar propina para escapar de punições, etc...), que a culpa é dos políticos, que eles são os "verdadeiros" corruptos do Brasil e que "O EXEMPLO DEVE VIR DE CIMA"....

Era uma vez um Exemplo Esse era daqueles de topete e casaca Elite da elite elitista de referência Mas a vida não é sempre boa com os bãos nem é sempre vida ad infinitum Um belo dia caminhando sobre uma alta ponte o exemplo elencava de si pra si as agruras nada exemplares do seu definhar os fios do destino quando se deu conta de que adejava sobre a murada em ritmo de Bolero de Ravel Dificuldades somadas o extrato consolidado apontava outros rumos e sobrevoos O exemplo sem exemplo maior a seguir desarvorado e indigente de fado observou em rápida despedida a seus botões que não desejava seu destino a ninguém No entanto sem se dar conta do peso de sua singularidade exemplar nosso amigo chegou de chofre acompanhado dos que o seguiram em sua hierarquia ao colo de uma honesta família que ali passava sem nada dever ao mundo
Família espalhada miolos espalhados órgãos espalhados e demais esparramos devidamente desordenados abaixo do alto viaduto deu - se a conclusão Seguir exemplos vindos de cima acriticamente pode resultar na dispersão irregular da racionalidade alheia Esse foi talvez o destino dos inconsequentes
Poema feito e dedicado à Eli Macuxi e ao Vavá, em resposta ao lindo e saudoso poema publicado ontem no blog dela www.elimacuxi.blogspot.com

Se como dizia a poeta
Minha vida como a sua
Também findasse
Não haveria impasse
Não haveria dor nem sofrimento
Mas em que momento eu saberia
Dessa minha súbita calmaria
Desse libertar de alma e corpo
Não seria no copo correndo
Na mesa entre letras e números
Não seria nos úmeros vazados de tutano
Nem no assobio do vento que ali fez morada
Talvez ficasse gravado no punho da espada do destino
Que um dia deste menino fez cavalheiro
Não haveria um letreiro
nem mesmo as letras miúdas do contrato
Indicando a rescisão
Aonde gozaria da sensação de descanso
Se não houvesse depois do lanço de escadas a subir
Um sofá uma birita
Para apreciar a vista
E um São Pedro de plantão
A indicar meu futuro lugar
No maniqueísta panteão
Sei da sua dor poeta e do quanto
Ela também me dói no seio
E sei que a gente as vezes cansado do permeio
Diz desejar estar na companhia do que se foi
Por isso é que justo sei meio em pranto
Que o quebranto e o desejo que nos ativa
É coisa de gente triste talvez por um triz
Mas ainda felizmente viva
Quatro esquinas beijam
minha alma de fronteiras
Esquinas ribeiras
Esquinas videiras
Esquinas matreiras
do merengue da salsa
Esquinas da falsa
impressão de riqueza
Quatro que acabam desaguando
Em esquinas de notas verticais
da realeza em cascatas
Do ocaso filtrado de núvens
Esquinas das matas
Com o lavrado
Esquinas do lado latino
E da terra perdida
Encontro de acaso e destino
Esquinas da minha vida
Um amigo fez café na cama pra esposa e dedicou a ela o soneto de fidelidade do Vinicius de Morais. Ela, feliz de vida, postou no face a façanha. O corretor de texto do celular, no entanto, registrou o nome do poema como

SONETO DE FINALIDADE

(pra não perder a oportunidade fiz pro casal em lua de mel este soneto decassilado)

Se morrer entre teus seios macios
Se quando acontecer entre nós dois
Não houver arrependimentos depois
Se cavalgando teus olhos vadios

Puder ser um ser quase infinito
Se buscando nos teus sinais achar
Meu destino redenção paz lugar
Se juntos formos um ser mais bonito

Se toda manhã o perfume em mim
For travessura da noite passada
Saberemos que não haverá fim

Essa nossa deliciosa insanidade
Assim será até a hora marcada
Findando assim minha finalidade
(Poema escrito em resposta ao poema de Eli Macuxi no blog elimacuxi.blogspot.com )

Já fui feito afoito
E acoitado enfeite
Das tuas dores
E prazeres
Quando sorris
Sou rio e rego
Indecente tua planície
Me alargando e estendendo
Entre tuas margens
Indo e lindo nas lidas
De te sonhar meio morta
Meio torta de intensidade
Vou fluindo onde não vês
Sentimento e eternidade
Amar tuas vontades
Como as tempestades
Amam o jardim
Abocanhar tua baila
Como quem se ala
Do teu jazzmim
Enfrentar teu moinho
Salpicando de vinho
Tua madura crisálida
Avoar teu refrão aos ventos
Como se nossos movimentos
Colorissem a madrugada
(E porque um tapinha não doi... minha versão gaúcha do Che ou seria tche?)

Ai de quem endurecer
sem perder a ternura jamais...
Seu gosto é de fazer
amor com as estrelas
E de infinitas querelas
na carne dos porquês
De deixar cismando ipês
na iminência do perfume
Fazendo arrastar impune
O olhar em infusão
Tentadora contramão
abre a pele como livros
Em palavras de paixão
Deglutindo-se em versos
Sabotando universos
Faz que chovam meteoros
Explodindo-os nos poros
Nos tornando mais travessos
O ruim de ter seu nome em V é que você é sempre o último a ser chamado quando sabe. Quando não sabe, ela faz um sorteio e a sorte, que sempre demora a chegar ao V, lhe abandona.
Uma vez, todo sabido, achando que tinha chegado a minha vez, me pareceu ter ouvido falar de uma inversão da ordem. Meu discreto e recolhido ego se apressou em pressurosamente se preparar para o chamado natural, carne e alma, mas... um corrupto, atrasado e uma maçã, foi o que me tirou os devaneios e os postergou.
De outra feita, mais feliz, observou-me à socapa: - Lindos olhos distraídos, V, cuidado, feche a gaiola, senão o passarinho foge!
Por muitas noites me perguntei se minha vontade de libertar passarinhos, essa minha noção de perpetuação das espécies aladas, esse meu senso ecológico, não teriam sido fruto desta observação.
Nada aconteceu que não tivesse sido inteiramente imaginado, desde então. O gosto de derrota na boca da libido ajudou a memória a não superá-la. Ficamos, em sonhos.
Em tempos de cólera me punha a dar tratos à bola sobre e se. Hoje planto flores nas palavras como quem deseja a liberdade aos passarinhos. E, sempre que posso, dou aquela flertada com o passado, para saber do presente.
Dela só o que sei, além do que lembro e do que inventei, é que a vida, por menos importante que possa parecer, deve ser seduzida. Shereazade transformou isso em sobrevivência, Clarice no surgimento de uma estrela, eu pratico com o conhecimento e vejo que, apesar das baixas, o número de andorinhas que se aventuram a sair da caverna, digo, gaiola, tem sido um pouco maior.
Avoai!!!!!
O que tenho pra fazer no mundo
Uma música angustiada de violência
Uma viagem a pé pelos caminhos
De Roma em busca de solidariedade
Um vôo num dirigível bombardeando
Cidades e exigindo dormir com Geni
Uma casinha na colina com discos
Livros plantas amigos e nada mais
Sexo sexo sexo sexo sexo sexo sexo
A obra teórica mais instigante
Onde vou encontrar minha humanidade
Um suicídio exemplar que nos redima
Até que a hipocrisia nos proteja
Um rock obscuro como a asa da graúna
Falando do big bang e do velho oeste
Seduzir seduzir seduzir
Procurar um par num palheiro sem agulha
Dormir no sereno para medir forças com a lua
Escavar as ruínas pra verificar se fui um gentleman
Escoar as águas passadas para a panela
E fazer uma sopa com a farinha do moinho
Espancar espancar
Partindo do princípio de que o prazer
O verdadeiro prazer está em ser submisso
E verdugo ainda que isso só esteja escrito
na pele dos que desejam o infinito
Lambuzar-me do teu cheiro e gosto ainda
que a noção de civilidade se veja enojada
Pular na cama até que as molas saltem por si
Esquecer que já fui triste porque sou real
Morrermorrermorrermorrermorrermorrer
Sempre intensamente aos jatos e gritos
Desenhando quadros distorcidos com
a própria felicidade fugidia dos membros crispados
Deitar no teu colo num gramado sem formigas
Escutar tua voz enquanto fritamos o peixe
Saber toda história de tuas amigas
Oferecer as entranhas aos Deuses cada vez
Que resolvemos não querer mais encaixar
Minha prepotência na tua intensidade
Tua alegria na minha sapucaídade
Penso logo repito o que tenho pra fazer
No mundo sem a tua proximidade
CAUSO COMPLICADO DE VIDA E MORTE

Se errada estás viva
E certa estarias morta
Então é certo que estejas viva
E errado que estais morta
De tal modo que estando viva
Sejas uma prova de que a morta
Errou ao dar a vida que não deu
E a viva acertou em recusar - se
A matar o que não morreu
Poema para meu filho Thálion Mibielli no seu aniversário de 24 anos (01/06/2015).

Um homem pode se virar
Do avesso e ser sempre
avesso a si
Mas se esse homem de verso
Se torna acima de tudo travesso
Atravessa a rima
e cai pra cima.
VIRGIN

Cultivava seios com o olhar
Mas em sua vida de agricultor
Faltava a materialidade da colheita
Um dia as estrelas virão
Até nós minha amada
E não porque seja madrugada
Ou por que tenhamos
Quebrado a cama no gozo
Mas por que amamos infinito
E infinitamente nos amando
As encontraremos assim por acaso
Como quem passeia nas praças
De mãos dadas e se busca
nos bancos entre beijos e promessas
À propósito de discursos Malfadados e respostas indecorosas de Bons chatos, um poema não antropofágico....

Que minha rola siga voando
Rolando pelos caminhos e sendas
Que sua liberdade criou num risco
Numa risada de crayon à Picasso
E que se encha de gemidos o espaço
Daqueles que se ofendem com seu vôo
E que assim como falo sejam felizes
Aqueles que sabem reconhecer no céu
Num dia de chuva o gozo das nuvens
A bailar entre pássaros e promessas
Porque a felicidade não pode ser somente
meio pau meio cacete
Minto descaradamente diante do espelho
Não quero ver os brancos que o tempo plantou
Em vez disso coloco-os na memória
E o tempo voa e os fatos fogem numa espiral
Agora tenho vinte e cinco anos quero surfar
Viajar pelo caribe no meu jipe azul-burguês
Ou ter vinte e cinco virgens que me deflorem
Pétala por pétala de um bem mal querer
Careço de uma espingarda de matar elefantes
Como as que Hemingway teria
Mas acho que gostaria de não ter a sensibilidade
De sentir as paquidérmicas dores que os dias trazem
Esse negócio de vestir - se do outro
Também é doído que só
Aguda é tudo o que a inteligência se torna
Nesse entra e sai de alteridades
Ou obtusa de tantas peles acumuladas
A ficção dos dias que sou implora por uma pausa
Para acertar a vida refazer o que precisa ser feito
Passar a limpo os borrões e terminar tarefas
Podar rosas talvez fosse bom e justo
Mas acho que acabaria por matar as roseiras
Não adiantaria de nada esse eterno fingimento
Não sou artista dos jardins alheios
Desejo o caos e as manchas disformes
Sem alamedas e simetrias
Meu verso e meu avesso coincidem no infinito
Esse é meu ponto de fuga e minha fugaz alegría
Preciso ser servil e ser algoz
independentemente de convenções
Talvez assim as mãos de que careço
Apesar do meu reflexo deturpado
Conheçam meu endereço
Minha primeira madrugada
Foi assustadoramente branda
E delicada
Sabía - me virgem
E teve o carinho de ouvir
comigo velhas músicas
de fossas que ainda não tinha tido
O locutor da rádio
Um canalha poltrão
As vezes tentava me dissuadir
Vá dormir ele dizia
E minha vontade de ficar
Com a madrugada
só minha
Aumentava
Nem sei direito como me desvencilhei dele
De sua arenga melíflua
Mas nos tornamos amigos enamorados
as madrugadas e eu
Hoje sei
Pândego irremediável
Que me tornei
Que talvez nunca antes
devesse tê-las tido por amantes
E que o locutor que amaldiçoei
Cometera um só pecado
O de pensar que poderia ter me salvado
A modos de Leminski

Furtivas
minhas lágrimas
Foram encontradas
Depenadas
Abandonadas
em beco suspeito
O eco era quase
um trejeito
Variações sobre temas diferentes ( A partir de um poema em prosa publicado hoje por Jaime Brasil Filho)

Estive na guerra de cuidados muitos
nem sei como voltei parindo outros
Sentidos comigo não violão trabalhar
No corpo alheio minhas memórias do fico
Sem dizer que fui eu que disse armado
De terras estranhas a entranhas estradas
Do conluio concluo que aluo em aluguéis
Todos os calvários de tequila e jiló umbigo
Todo mundo é minha semente e somente eu
Não sei semear gente que não gosta de gente
Despejo desalienado meu gozo em desalinho
Recebi uma ordem de desespero espero
Augúrios e almas com guizos
Música de suco de limão espremido
Seu gemido
É quando o sol poente preguiçosamente estica os braços
E abraça a praia fazendo explodir cada gota em luz
Que teu corpo faz juz às curvas das ondas
E as montanhas ao fundo se dobram em reverência
A coisa é assim e não se descreve direito
O sol se põe no mar as cores se multiplicam
E eu sinto vontade de explodir de tanta beleza
A vontade é abraçar o mundo bêbedo
De esperança e alegria
mas mundo não há
O sentimento é maior e as pessoas de que preciso
me fazem falta como as estrelas
Preciso engravidar cada palavra daquilo que realmente é
Mas o minuto passa as horas passam
e fica somente esse sentimento de que tudo é lindo
Tudo é energia coito e gratidão
E que eu por incrível que pareça faço parte disso...
Capitu é quase negra e tem um olhar de esquerda, meio enviesado. Logo, Capitu é petista. Logo, mais, Capitu traiu Bentinho!
Machado, certamente, never more, nos perdoará se não a devolvemos à Havana, de onde nunca deveria ter saído.
E, muito menos, ainda, não será conivente com aqueles que, sendo pais ou professores, não punirem muito severamente àqueles menores, dos dezoito aos dezesseis, que a creditaram inocente. Ou, ainda, mais, que ousaram não se posicionar dentro da dubiedade, ou acreditar na dúvida, ou dizer que não era importante.
Pensaram o que? Que o corpo dela lhe pertencia? Que seu leito podia ser socializado? Que poderia abortar o filho? Que o segredo poderia ser mantido? Que ela independia de Bentinho?!?
Estamos nos dezoito/dezenove e é petismo ou Morte! A outra opção não leva nome de nada, nada crê a não ser no binário. Acaba nada sendo. Mas é.
Prova de que a maçã era, na verdade, uma jaca e a cabeça do pobre Newton foi propositalmente destruída pelo PT. Tava na Vejjja, eu vi.
Shakespeare, pai do pensamento contemporâneo, vaticinou pela boca de Hamleto: - Tupi or not tupi that's the question!
Macunaima, partidário e fundador, respondeu amuado: - Aí que preguiça!
E não se oPTou, até que o pensamento fosse petrificado.
Em dois reside a bênção e a salvação. Só dois salva!!! Três é demais. É muito francês. Nonada.
Você sabia que olhar para trás e ver generais de cinco estrelas, justifica de verdade, o pensamento??
Pensar diferente de tudo, contrariando Quincas Berro D'agua; impossível! Ou se é, ou não.
Capitu também é o boi voador. Olhar de esguelha... Com tetas gigantes de pátria esfarrapada, meio boi mamão, meio vaca de presépio. Farrapos no pensamento, farrapos de independência.
Pária é só a pátria sem tesão. E sem tesão não há solução.
"Porque o sabiá não gosta de palmeiras? Perguntou o menino alviverde, assustado.
Resposta de palavras cruzadas (com as letras contadas perfeitamente): - Você sabia que o sabiá é do PT e sabia assobiar?! Aliás, sabia o sabiá de tudo... Inclusive onde guardava Capitu o seu veneno.
Pois, não foi ela que fez Branca de Neve trair os anões com o príncipe?!? Desejo de poder... Por isso os militares são necessários. Pra acabar com a bagunça, a arruaça, os esquerdos e os direitos. Haverá só Capitu e sua feia traição.
E quem pensa diferente que se mude.
Ame-o e deixe - o... - Aquí e agora, rapazes! Aqui e agora!! Dizia o mainá, entre as folhagens da utopia.
Não criticar Capitu para não dar munição a Bentinho, não criticar Bentinho para não dar carta branca ao PT de Capitu. E não importa se não te satisfaz o torto e o direito. Machado que se f*....
É assim. Na pátria educadora, sabiá só conta até dois...
Você é ou não é, Zé Zé ?
Sempre os mesmos miolos
Massacrados no papel
Até deixarem impressões
Um vulto uma vontade
E meu próprio fantasma
Assombrando minha forma de ser
É verdade então
De nada adiantam a razão e o discernimento
De nada adianta o cimento dos lábios no Beijo
De nada adianta o Tejo ao entardecer
Se não há Pessoas no seu tudo vale a pena
Se não há inimigos a combater com Gentilezas
Se não há as proezas no seu dia a dia
Não há via que o medo não devore
Nem noite em que ele não se arvore
Como uma promessa vil de vida e corredeiras
Porque carpideiras se não há choro nem vela
E porque uma janela num beco
Tudo seco tudo da cor de dentro
E o centro do universo sempre se deslocando
As jandaias declamando Cazuza fazem pensar
O que diabos é um lar
Um lugar reincidente de segurança e paz
Continue a nadar diz a menor das barbatanas
E sinestésicos abraçamos cheiros gostos na pele alheia
Como quem rouba a lua erotizado de poder
Somos vagens
Somos vagens no nosso sono matricial
E embora nada faça sentido
Não ter rumo nem certezas
É o que temos de melhor
não nunca houve mal
em ter nas faces um pouco de sal
Pó sobre pó
Como palavras tecidas de vento
Ergueu-se de si
Inexistente e puro
Lavava - se na liturgia da chuva
Já não estendia as mãos às moedas
Sabia do soslaio alheio
Sem pena
Sem dor
Sem ressentimento
Já fora caminho e pedras soltas
Dessas que aqueles sem pecado jogavam
Das chagas e chacinas de estar vivo
Herdara o saber escuro
De atrás dos olhos
Agora fazia manhãs
Que confeitava de núvens
Imperfeitas e chuvosas
Como o homem jamais poderia ter deixado
De ser
É como se as primaveras
estivessem todas ali as cinquenta
Enfileiradinhas no carrossel
Paradas mas girando
Me olhando atentamente
Talvez esperando pra ver
O que vou fazer diante do muro
Que os anos tentaram erguer
Entre mim e o desejo criança
A vontade é soltar uma a uma
De seus arreios e deixar
Que se abram em flores
Que disparem pelo lavrado
Que sirvam de montaria aos quatro
Ou simplesmente sejam minhas
E vão se reproduzindo e crescendo
Aumentando nosso girar endoidecido
Porque gosto cada vez mais de viver
E de amar
Pára o sempre que quero descer
O sofá está velho
O cachorro está velho e fede
O chão de tacos está solto
E é um perigo para lunáticos
Que vivem no mundo dos livros
O pó da biblioteca ainda é o mesmo
Há décadas e estamos ficando menores
Em nosso heroísmo de salvar cães e gatos
Da rua e dos maltratos da humanidade
Já não fazemos amor na nossa máquina
de moer o mundo herdada de John&Yoko
Já não queimamos os maus espíritos
Inalando suas verdades astrais
Agora somos só expectativa
E silenciamos o medo
Mas sabemos
A felicidade está nas flores
Está no grito dos amantes
Nas músicas que ouvimos juntos
Sorrindo de cumplicidade e memórias
Já dançamos nus na chuva
E ficamos dias a fio no escuro do quarto
Já cozinhamos juntos e bebemos todo o vinho
Trilhamos os caminhos da eternidade agora
E vimos lá fora o nascer do sol e o seu pôr
Temos ranzinices guardadas nos armários
Pros días de chuva e vento
Porque não podemos sair
Com medo dos resfriados
Ainda assim nos damos as mãos
Nas praças dos shoppings
E queremos namorar como na modinha
Que foi feito de nossos piercings
E das paisagens tatuadas em nossos corpos
Do amor correndo livre em nossas veias
Ainda são só ternura e paz
Como nós somos
Como nós fomos
Como ainda seremos
Para sempre
Hoje pari um sonho
E como sou muito afeito ao real
Senti doerem os dentes da alma

O exame pré natal não acusou
Mas o sonho estava virado no ventre
E nem a fórceps queria sair

Era um gordo sonho natalino
De familia burguesa reunida à mesa
E veio me rasgando cada laivo de consciência

Da fome no mundo das bocas desnutridas
Dos refugiados tentando ser gente
Da gente matando sonhos com medo da dor
Da vida das fadas que precisam de quem acredite
Da poesia minha pobre e mirrada amiga flor
Que já havia nascido no asfalto um dia

Então juntei um resto de coragem
E desmaiei trazendo ao mundo
Um sonho bobo
Menor e menos importante que um pedaço de pão
Que um pedaço de chão pra plantar

Mas descobri que meu lugar no mundo é ali
Parideira-homem de sonhos que não posso sustentar só
Mas que entrego com prazer para adoção

Poema em homenagem e resposta ao poema que chamei de "O matador de sonhos" do Poeta Devair Fiorotti publicado hoje à noite.
A Eli Macuxi postou um poema lindo no blog dela hoje. Li, amei e fiquei tão impressionado que fiz uma versão minha... É claro em homenagem a ela e à sua poesia...

Nada vai modificar
O gosto do apelo da pele
O ritmo de amplexos
Que são não são
Muitas formas do desejo
perfurante
Ente no dente
mas
Mais ser
O mais sendo macio
Cicio e aventura
Ao infinito e além
Como um atoleiro
Afundando divinações na carne
Cerne em tudo ao redor
Moedor de mim
Tomo das coisa simples
Teu vestido
Tua cor
Teu cheiro
Meu desejo
É só
E me ponho a navegar
No impossível da tua pele aberta
Desejando explosões e sonhos
Enquanto a minha planeja
A própria e deliciosa destruição
A gente semo unha e carne
Unha dela carne minha
E um dispropósito de língua
Aqui e acolá
A gente fiquemo horas emburrecido
Mais aí um intica cum otro
E dá nessa misturança
Us zóio nus óio
As mão pegada
As coisa junta
E quando vê
mermo ela sendo dotora
I eu tumem
A gente vorta pra roça
Inxada na terra
I pá
E nada que digamos de feio
Muda nossa felicidade
POEMA ÉBRIO

Quantas vezes um poema vai à lua e cai
E em quantas delas o poeta está à bordo
Quantas vezes um poema se distrai
Se deixando engolir pelo torvelinho do dia a dia
Quantos sonhos pode sonhar
E quais ele transforma em pesadelos
Será que apenas da carne dos amantes
Se faz sua materialidade histórica
E ipês e orquídeas não podem ser poemas
Quem disse que uma oração fervorosa
É apenas um pedido egoísta diante do belo
Por que não foi escrito que saber mentir
É saber muito mais sobres as verdades
Não me ameacem com o lirismo da vida
Sei que poetas costumam criar tipos pra si
Ou se deixam seduzir pelo nunca mais
Sei que esta lua e esse conhaque
Me botam comovido mas aos diabos
Não estou aqui para ser rima nem solução
aqui estou porque as manhãs existem
Mesmo depois que as noites insones
Acabaram com toda esperança
Menos a cachaça
A modos de Nelson Rodrigues II
Quando se deitam as palavras
No divã da madrugada
Todo mal do amor é desnudado
Não importa quem procurou
Foi procurado
O mais são unhas gemidos
O paraíso a toda
Desgovernado
A porta está aberta
Amanhaceu escancarada
O silêncio dormiu em casa
E embora os pássaros tentem
A manhã não diz nada novo
A porta ao longe era orifício
Coisa de gente desocupada
Como o vento sem destino
Pedaço de um desejo maior
Uma casa segurança lar
A porta sem barreiras convidava
Insinuava festividades felicidade
Brisa a fazia gemer indo e vindo
De vez em quando alguém havia
Ao encontrá-la cerrada de bater
Ou tocar de leve à campainha
Delicada ou de sopetão
ela dizia entre indistintamente
Ou ficava indiferente selada
Cara de pau que era
Mas não hoje
Hoje amanhecera sem serventia
Porta e vazio
Já que ali ninguém mais passava
Eu quando lua for
Hei de fazer sofrer os amantes
Despejando sobre seus corpos
A força das marés
O desejo irrefreável das ondas
De modo que mesmo extenuados
Não possam parar jamais
Quando eu for lua
O mundo será apenas uivo
E a noite uma espera encerrada
Num barril de carvalho
Até que alguém se embebede
De mim
Quando lua for eu
Farei surrar as esperanças
Para que apenas grilos
cantem de prazer
e seu orgasmo
seja a via láctea
Quando finalmente lua eu for
Em meu quarto minguante
Sustentarei leitoso
todas as bocas que a mim vierem
E mesmo me esvaindo
Farei sonhar às árvores dos charcos
ao amanhecer.
Trouxe na ânfora lua e estrelas
Para bebermos junto com a noite
E era estranho o gosto de estar além
E poder tocá-la como a um piano
Tinha metáforas nos olhos
Magníficas metáforas castanhas
Apaixonadas pela aventura nudez
Em seus perigos de vida e morte
Aliás morrer era um detalhe íntimo
Engastado na concavidade de cada
Gemido e suspiro libertado
Agora o antes será
Diziam os corpos
E cair em si estando no outro
Podia ser crime
Mas também era redenção
Dos muitos universos
Com os quais flertei
Nessa minha poética existência
Confesso envergonhado
Que acordar pássaro
Me excita sobremaneira
E que já fui rezadeira
Contadora de causos
Mas de todas as vidas
Que podia ter tido e imaginei
A mais linda e gloriosa
Seria ser um samba
Não o sambista
Nem o passista na passarela
Mas um samba
assim como a brasileira aquarela
Quando a poesia perdeu o jeito
Chico Buarque foi desfeito
Em plena rua
E as mulheres de Atenas
não puderam mais se representar
Quando a poesia já sem compostura
Escapou à censura
Não havia motivos a desencantar
E o cotidiano de Chanel número cinco
Veio para a rua inversos desaforar
Quando a poesia foi espancada subjugada
A barbárie de colarinho estava passando
E seu desejo suástico
Mastigava cáustico
qualquer possibilidade de modinha
Quando a poesia foi dita comunista
João e Maria já não podiam sonhar
Rotulados amarrados espancados
Pelo não saber de quem preferia
pedir ao pai que afastasse o cálice pra periferia
Quando a poesia já fatigada
Chegou em casa depois do batente
Veio tenente coronel e até general
travestidos de civis sem civilidade
E ela foi empurrada pela amurada
E morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Quando o ano acabou
Uma onda veio até a areia
Beijou - a carinhosamente e se foi
Depois a seguinte e a posterior
E todas uma após outra
Desejaram felicidades à terra
As estrelas que se banhavam ali
Fugiram para o infinito
E se pode até ouvir o lamento
Da lua que tangida pelo vento
Mergulhava nas águas agitadas
Os homens então explodiram
Aquela velha casca com fogo
E nasceu um ano novo
Aprendi que não devo produzir
poesias de caráter sensual ou erótico
Não tanto porque o sexo embora maravilhoso
É efêmero e se consuma em momentos
Mas pelo fato de que quando termina o poema
Sempre dá vontade de fazer mais
Difícil fazer um poema sóbrio
Quando há tantas faces tantos olhos
Nos quais embriagar a alma aventureira
Impossível manter palavras contidas
quando há uma multidão de palavrões
e sentidos almejando liberdade nos lençóis
Um desejar trôpego denuncia
As vontades mal escondidas na boca
Que remói outros lábios à distância
Já não se precisa de voz
quando é possível atender grunhidos
E os corpos se tornam todo ouvidos
De tanto amar o mar
Omar chamou
ao primeiro filho
Quando o mar chamou
O primeiro filho
Ele ficou olhando ondas
Incrédulo e traído
Catapultem - me
Pulcra alma
Da lama criada
No charco atolado
Até os cheiros
Retirem - me os freios
Que os rôo incessantemente
Façam - me gente
Comida e líquidos
Depois devolvam - me
aos céus cometam-me
Uma gota escorrendo
O que estás querendo
Pergunta pele arrepiada
Mas a gota malvada
Segue descendo
Em cada cantinho
Deixando uma estrada
E a dona da pele
Vai ficando molhada
POESIA IMPROVÁVEL DE CARNAVAL
A bezerra morreu no cio da repressão
Não brincava carnaval nem dizia sim nem não
A bezerra vivia sua necessidade de ser pura
A pureza gritava dentro dela querendo
O jorrar de suas tetas nas bocas dos foliões
A bezerra tinha tensão nos bicos dos úberes
O bumbo fazia seu coração saltar
Empurrando tudo mais pra fora do altar
Que era sua carne quase suína de desejo
Mas ela mazela sua negava o beijo do asfalto
Negava o salto da vitela para o espeto
Negava papo reto de couro estendido
Negava ao ouvido os elogios à sua composição
Olhava tudo aquilo como estouro da boiada
Sentia-se deslocada os quartos balançando
No máximo se permitia amaciar o filé mignon
Morreu na mão do megarefe matador
Novilha da silva sem nunca ter vaca sido
E nós choramos sua morte
Bezerra volte
Poesia de auto ajuda
Valei - me são eu mesmo
Vá ler - me no espelho
Onde sou lindo maravilhoso
E gozo de vinte anos menos
Valei-me com catuaba e ovos de codorna
Nas sarjetas obscuras
E outros vales e valas
Nos quais procuro afundar minhalma
No orgasmo cósmico indistinto
Valei-me nas palavras de honra e segurança
E nós ouvidos da madrugada
Ammarrado a você e à cama
De onde sonho com um mundo melhor
Cheio de mim seu umbigo
E da ajuda da minha lúdica loucura
Ói eu brincando com teu poema e com o Drummond Eli....
Margarina sem pão lamentava - se
Chorava o fato da cena do último tango
Ter sido feita toda com manteiga
Amarga vida sua artificiosa condição
Não ter leite na composição
E ser menos glamurosa
Assim meio derretida meio acabada
Cedeu seu pote para terra e semente
Ali como no asfalto nasceu delicada flor
Uma margarida minha gente
Poema feito para um poema da Eli Macuxi no seu blog www.elimacuxi.blogspot.com ( poesia pura)
Dos sonhos repartimos a carne
E nos encontramos no fundo afogados
Em nossas próprias deserções dos mitos
Por ali fomos mais bonitos e escassos
Sem fracassos nem acertos
Permanecemos abertos
Sem tetos sem tretas sem tecidos a mais
Partimos do cais para a tempestade
Desarvorados as velas esfarrapadas
Ainda trocamos tiros na madrugada
Como dois bucaneiros
Arruaceiros das coisas do lar
Invadimos sofá e geladeira
Não respeitamos nem a namoradeira
Na varanda invadimos os ouvidos alheios
E feios como nossos gritos
Concluímos aflitos que a humanidade
Não está preparada para acordar nua
E de prazer perfumada em plena rua
Hoje não quero ameaçar
O amanhecer com nosso cio
Quero um pão com manteiga
Uma xícara de café e as chinelas
Que guardo no armário
para os dias de ócio
quando faz frio nos ossos
Hoje não quero sorrir olhando
No espelho sua assinatura vermelha
em cada canto meu
Quero ouvir música de bandoneon
E ligar simultaneamente a tevê
Bem alto
pra substituir a falta dos nossos gemidos
Hoje não posso respirar seu sabor
Ou colher seu perfume na roupa por lavar
Nem ser seu eternamente
E nem até mesmo embaixo d'água
Porque você já foi embora
E sua ausência
faz escuro em mim
Não é justo encarar a madrugada
Quando ela faz aquela cara feia
De bem feito você está sozinho
E relembra de um tempo menos cruel
Em que ela e os cigarros andavam juntos
Assim como as cigarras e o pôr do sol
A tosse vai impelindo a memória
E você se descobre sorrindo
Estar só ainda é estar
Alienijo-me de mim em teu ser
Somos gestos e sombras no infinito
A olho nu nos encaramos
Corpos celestes girando
Poeira de estrelas que dança o bolero
Em nós cada dimensão
Tem seu próprio desejo
Universos paralelos
eternamente em expansão
Negros na negritude dos becos do corpo
Ameaçamos o falso moralismo esbranquiçado
Alguns de nós trazem um arco íris desfraldado
Nas entranhas como se bebessem o suor alheio
Re evolucionamos nossas preces
Garantindo a segurança dos que nos têm ofendido
E nos deixamos cair em tentação
Navegando no sangue do compadrio
Pois que no frio mesclamos
Nossas peles, pelos e apelos
Criamos elos que não serão desfeitos
Para o bem ou para o mal
Por isso somos e fomos carnaval
PEDAGOGIA DO ERRO
Erre
Erre muito e sempre
Erre por Bruxelas
Pelos becos de Paris
Pelos canais de Veneza
Erre sem nunca acertar
Sem nunca se quedar
Insatisfeito imperfeito humano
Erre de barriga cheia
Ou de barriga vazia por um pão
A mão estendida suplicando
Erre amando
Cada curva cada delícia do caminho
Erre sozinho
Entre lágrimas e sorrisos vãos
Que não serão vistos
Entre bem quistos bem apessoados
Erre entre os humilhados e ofendidos
Nos precipícios
Não há erro
Tudo desce e cai por terra
E todo sólido se desmancha no ar
Erre com as dúvidas
Machado sabia
Duvidar é do ser
Erre com os filhos
Com os filhos dos filhos
Acerte bolinhas de papel
Erre nas provas da vida
Cada questão de marcar xis
Erre na mesmice
E finalmente quando muito tiver errado
Continue errando
Para o alto e além
Livre das certezas
Livre do incômodo do politicamente correto