31 de maio de 2006

Ela era mãe
Mas contava
Pra si
As horas
Os dias
Os meses
Até anos
Em que nada
diferente
acontecia
ao seu
ser mulher

ela era a mãe
e ninguém
sabia (nem
podia imaginar)
dos desejos
e contradições
das sólidas
fantasias
que guardava
sem pilhas
no armário
do quarto

ela, a mãe
nutria por
si mesma
o desprezo
dos anos
até que
achou
numa floricultura
uma outra Rosa
quase sem espinhos
mas de perfume
devastador

inda agora
as duas mães
que tenho
(uma negra
a outra rouge)
me explicaram
que meu pai
existiu
e foi um bom
homem

Mas insuficiente

4 de maio de 2006

poema da minha amiga FRÔ

Busco essência dentro de mim
e nas coisas aprendidas.
Minhas retinas afoitas desejam,
do pinheiro plantado no natal,
algo mais que folhas secas.
Procuro aquilo que vingue,
vitorioso,
esse tédio viciado de morte,
desesperanças, costumeiro.
Persigo algo que alcance
o cheiro do vaso de especiarias
das sete ervas pra afugentar maus espíritos.
Meu pequeno vaso lírico:
uma espada de São Jorge mirrada,
pimenta malagueta, rubra, ardida,
alecrim, manjericão perfumados,
guiné ousada, espichando tentáculos,
arruda morta,
encoberta por folhas largas,
esbranquiçadas,
ladras de luz.
Minha vida se reduz
a buscar o Sol todos os dias,
lutar contra a sina arruda:
sorrir e girar
feito um girassol feliz.

Frô 19:58 14/02/2000