31 de janeiro de 2015

Poema do desespero existencial

Porque ser
Se você
Pode star
E se acordasse um belo dia
Descobrisse que não sou o protagonista
Que tudo o que minha vista
Alcança é pouco para que esta ficção
Tenha um mínimo de verosimilhança

E que minha herança é o pó
Das palavras que o vento desuniu

Se percebesse naquele segundo
Que o mundo continua depois
E que era coadjuvante na história
Da pessoa mais insignificante

Onde esconderia meus sonhos
de glória e orgasmos volumosos
Que guardei com carinho

Em que escaninho mesquinho
Seria guardado meu ego
Para jamais ser estudado

Valeria a pena ter pensado
Tanto tanto ter lutado

Não teria sido melhor ser
Ave que morre de pedrada
Esquecida olvidada

Algo que passou
um ser breve
que não vai voltar
Não quer voltar
Não pode voltar

Apenas porque não é preciso
Que nada faça sentido
Nem tenha importância
Para o tempo em que se viveu

Nem mesmo eu
Como se tentasse evitar uma tragédia
Abocanhou forte o bico vermelho
Espalmou a mão no rosto branco
E xingou tanto quanto pode
invadiu mais do que de costume
Em movimentos assustadoramente intensos
Queria rachá-la ao meio antes que acontecesse

Pois sabia que quando ela experimentasse
A vida loca nunca mais teria fim
Estou aqui onde as farpas
Da cerca estilhaçam o sol
Onde os cem anos de solidão
Concentrados numa única
Gota escorrem para o paraíso
Dos dias para as terras do fim
E alagam a memoria com
O gozo sujo da desesperança

Estou aqui olhando o cosmo pelo avesso
Tão concentrado em um só espinho
Que não interessa mesmo a quantidade
De feridas que ele pode ter aberto na brisa
caminho dos cegos e das mariposas

Estou aqui entre palavras e linhas
De um destino que não reconheço
Como meu nem pretendo ver na borra
Do café de ninguém que mereça desprezo
Miro a lua com os olhos insones
Sugando sua forma pouco a pouco
Queria um blues e um cigarro
mas é clichê sonhar com facilidades

Ainda agora anoiteci meus medos
Com uma cantiga de ninar nada original
Acariciando o vazio como se fosse eternidade
Começou na ponta dos dedos
Era engraçado sensual sei lá
Depois avançou pelos braços e pernas
Bom bom bom muuuito boooom
Os pelos eriçados flutuavam
Sem carne sem pouso sem destino
Aos poucos o circulo foi se fechando
Os mamilos querendo se ejetar
As pernas abrindo o caminho de si
Até que se aprofundou de repente
Vezes sem conta abruptamente

E a alma sem dono vagou por aí
(Por mais óbvio que pareça o título é esse mesmo) PERDAS &GANHOS

Tenho perdido muito ao longo da vida
Perdi coisas que se perderam de mim
Perdi assim dinheiro pela falta de zelo
Perdi o elo com imagens que teria guardado
Perdi o agrado de amigos e amantes
Perdi mesmo antes de ter tido a glória
E da história também me vi perdido
Perdi os sentidos com o fim de segredos
E meus medos foram aos poucos dissipados
Não tenho achado mais minhas anotações
E as ações que deveria ter realizado
Do meu lado quedam irremediavelmente perdidas
Das vidas que poderia ter vivido não há o que falar
E não encontro lugar de descanso que me cure
Não me jure que as promessas infinitas
São as mais bonitas pois nem sempre se cumprem

Peço que não soprem mais velas no meu bolo
Porque o rolo compressor aumenta o desvio
E quanto mais se consome o pavio mais fumaça
O mundo espaça e em sonhos abandona e dispersa
Tenho perdido à beça a pura noção da decência
E sofro da inconveniência de gostar de sexo
Não vejo muito nexo em perder o já perdido
Mas mesmo isso tem me acontecido em escala
Há quem cala e perde a chance de me dizer
Que seu viver independe de mim e de minha felicidade
Mas considero maldade os que falam sem nada dizer
Dos de prazer fingido tenho me despido ou achado em poesia
E não é todo dia que não lembro do que fui e sou
Aliás do pouco que restou faço duas propostas
Ou me sai das costas me olvidando definitivamente a morte
Ou me corte da vida e da memória a mãe do esquecimento
Este é meu testamento
Era bela como a noite
Acoitava corações como ninguém
Mesmo quando morria nos braços
Do infinito e mordia a pele do desejo

Falava a língua oculta da imensidão
Dentro dos que choravam seu prazer
Sem procurar entender mágoas e medos
Sem comportar os dedos e as mentiras
E terminava em tiras
o que não tinha começado

Seu maior pecado
Era amar demais
Por isso vivia gozos mortais
Das delícias dos reencontros
Conquistei a quimera dos anos
Reaprendi minhas virgindades
E noites insones fizeram
Ver que tudo é diferente
Muito embora não haja novidades
Entre céus e terra

É só uma questão de ir além da pele
Lá onde o querer é mais profundo
E não tem dono
É um atropelar de conceitos
Em busca do abandono
Magia que transforma
o demonio da culpa
Em plenitude da felicidade

Sim sonhei acordado
E vi de cada lado um anjo
A me dizer da saudade
A me provocar as minúcias do olhar
No coito das núpcias com o tempo
Agora sei encontrar as distâncias
Tanto quanto as proximidades
E sei que sempre valerá a pena amar
Ainda que num quase eterno esperar
Desejo é coisa de quem quer
Não é só coisa de homem e mulher
É coisa de flor que se oferece
Ao sol e ao beija-flor que passa
É coisa da água essa devassa
Que a todos sacia e que deseja o mar
É como querer ter um lugar
Para receber amigos e parentes
É como beijos de crianças inocentes
Que só desejam dar às gentes felicidade
É essa vontade louca de abraçar o mundo
E dizer a qualquer um mesmo num segundo
Que viver é lindo e sempre há esperança
Por mais ridículo e piegas que pareça
Desejo é coisa da cabeça
mas também é do corpo que dança
Dos dedos que tamborilam da voz desafinada
Das coisas escondidas mesmo as que todos sabem
Desejo é polissêmico polifônico tudo e todos cabem
Até o da moça tímida de ser perdida e encontrada
Desejos às vezes são mesquinhos pequenininhos
Chegam a ser engraçados
Dominar a lua ter todos os três porquinhos
Fazer pequenas maldades ou ser vitimado
Conquistar a grande montanha do El dorado
Ler as bibliotecas da Alexandria e do vaticano
Ser o cara da vez e nunca entrar pelo cano
Desejo é vida e também libido
Desejo pode ser indefinido
feliz
especial
Alegre
Triste
Abranger tudo e nada
Tem desejo que ainda nem existe
Tem desejo que se renova
E que por isso prova
Que algo é desejado o tempo todo
Através das horas dias meses anos
Enganos
Aliás passei pra dizer que desejo a meu modo
O seu desejo

Que tenhas um ótimo Ano novo e que o desejo prova do genio da insatisfação e da inquietude humanas seja ainda mais forte pra ti em 2015
E que de vez em quando quando for bom e oportuno cumpra-se
Quero você subindo meus muros
Por todos os lados como horda
De arrepios invadindo a fortaleza
Da pele arrancando das prisões
Nos porões mais alagados as vontades

Criando tempestades onde só havia
Uma tímida umidade no ar e na terra
Quero ouvir as imprecações dos piratas
Sentir a força dos ganchos dominando
Fazendo em cacos civilidade e vergonha

Transformando minha solidão em abismo
Os urros e sussurros na música da criação
o universo nas pequenas gotas de suor
E o caos em nós pontas da mesma corda

Acordo do patético com a poesia dos tons
Tatuagem dos sons no corpo da noite
Açoite de sinceridades do paladar
Esconderijo da língua no gosto que tenho

Para seu prazer porque sei que seu exército
precisa beber precisa lutar abrir caminhos
Arrebentar resistências extrair saquear
Se embebedar com meus vinhos
Coloque uma gaivota
no seu por do sol por mim
É que gosto de comerciais
De gente correndo na areia
E penso que Fernão Capelo
Embora triste era livre

O sol se pondo no mar é tão colorido
que consegue transformar em alegria
A distância como se ela não existisse
E ele e a água estivessem no mesmo lugar
Aprofundando-se um no outro até as estrelas
É por isso talvez que elas existam lá e cá
Trazidas pelas gaivotas
Prova de que em matéria de amor impossível não há
Para termos uma conversa sem fim
Coloquei você em mim entre parêntesis
As frases dos destinos cruzados
Entrecortadas de aventura sofreguidão
Assim cada pequeno trecho da minha pele
Quando combinado com a sua
Fez o universo ser mais único mais verso
Já vivi na eternidade do olhar
Tantos beijos não dados
Que acho que os fados
Têm razão

A vida é só ilusão
Da primeira vez que a beleza foi às estrelas
Teve medo da altura e precisou voltar
Para isso teve que inventar o raio de luar

Da segunda vez que ela ousou se aventurar
Ficou presa do seu sorriso no exato momento
Em que você quase saciada se deixava derramar

Mas houve ainda outro genial instante
além do mito e do prazer e tão importante
Foi quando usando de toda sua magia
A beleza se transformou em poesia
Deixe estar a chaleira no fogo
Deixe que as coisas queimem
E que a poeira se alastre
Só nos dois temos direito
De nos movermos antes
E depois do universo
Só nós dois sabemos o gosto
Que nossos corpos têm
No corpo da madrugada

Deixe estar essa preocupação
Com a eternidade do amor
Refugie seus medos e razão
na efemeridade do gozo
Sem a qual não haveria o sem fim
Deite em mim os dentes e unhas
A realidade é só o que temos
Para agarrar e narrar
Enquanto não aparecem os netos

Deixe - se finalmente encantar
Com as cotovias da alvorada
Se nossa vida nos for proibida
Temos nossas marcas e cheiros
Busquemos ainda festeiros
Este pequeno morrer
As coisas que giram ao redor
Terão o valor da memória
E dançaremos sempre com as estrelas
Você não sabe talvez
Que minha vida
Fica só ida sem você

Fica sem o vê
De suas pernas
Em vitória

Esquece da glória
De fazer perder
O tino e a razão

Não sabe que não
Sei sabor saber
Se não for seu prazer

Que não sei fazer nada
Não quero outra sorte
Embora me faça forte

Fico sem eira nem beira
inda que alguem
Sem querer me queira

Deveria saber então
Que minha vida também
Fica sem ida sem você

Fica sem porquê
Sem caminho ou escolta
Porquê você não volta