24 de setembro de 2009

entalhe

Para que viver
um grande amor,
Este prato imundo
Onde se come sempre
A mesma comida?
Pra sonhar com outros maltrapilhos
Arrancando a tigela
Das suas mãos trêmulas?
Pra viver um êxtase
Contínuo de opiômano do mesmo
Nargilé cujo vapor
Nunca parece suficiente?
Para subir nas montanhas
E montes de Marte
Em Vênus e não poder
Respirar direito?
Para esquecer que existem
As próprias entranhas
E Prometê-las aos deuses
e corvos eternamente
em troca de um fogo que se abranda?

Não, prefiro a solidão
Que me é natural.
Prefiro o carnaval
Da cara desconhecida
Deliciando-se da ferida
Deixada pela vampira anterior
Prefiro a dor
De me sentir contente
Só pra não ter gente
De verdade me dizendo
Como é lindo não
conseguir dizer o que sente
Prefiro o vazio
De ser sugado
Até o último detalhe
E o entalhe
Na parede
Pra não perder
A conta.
Mas se tudo isso
For muito absurdo
Prefiro ficar mudo
E não fazer nada
Por que o fim
É sempre o mesmo

2 comentários:

luamora disse...
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Leonor Cravo disse...

Repensando conceitos.
O poeta tem este poder de nos fazer sentir... e refletir....
Adorei este momento de reflexão