17 de março de 2013



Fomos feitos de descontinuidades
Nossas verdades nunca são inteiras
Nem nunca são metades
Acreditamos nas linhas retas
Como quem depende das tetas
Onde mamou
E oramos pelo que passou
Como se fosse um conjunto
Ordenado de fatos
Atados pela coerência
O fado ou o destino
Mas isso é apenas a inocência
de quem não entende
que as coisas só têm correlação
aos olhos do expectador
e que nem mesmo o amor
vive de um só momento
Cada olhar que se encontra
desvia de algo ou é desviado por alguém
Não há destino na polissemia
e dimensões que cada qual carrega
quando tenta se fazer compreender pelo outro
as possibilidades de sentido
são tantas que é impossível
que as pessoas não entendam
algo num diálogo
no entanto a conversa é feita de vazios
descontinuidades e temas sem conexão
entre si
apenas amontoados que a gente
tenta fazer parecer um conjunto
Somente o vago é testemunha
do que não é nem será
tornando-nos por necessidade de coesão
reféns da lógica do inteiro
e seguimos tentando agrupar
fatos princípios idéias e vozes
numa mesma linha
religiosamente buscando
um único sentido para o plural

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