24 de outubro de 2013

MEMÓRIAS PÓSTUMAS



Sou apenas um pedaço de papel virtual
Virtualmente desvirtuado
Pelo tempo espaço e sua relatividade

Sou apenas metade do que queria ser
E sonhava estar dizendo isso pessoalmente
No entanto não estou mais
Não sou mais
Não mais um corvo
Um estorvo
Uma resposta

Fui ser gordo na vida
E ela se fartou de mim
Me tornou o que outros foram
O que disseram e consagraram

Trabalhei
Sorri
Sofri
Saí da caverna para o beco
E deu tudo na mesma

Preciso matar o poeta dentro de mim
Antes que eu mesmo morra
De lirismo agudo
Olhando tudo com a cândida expressão
De quem jazz apalermado
Vendo a cidade atuar diante dos olhos

De Raimundícies poderia ter sofrido
Sendo professor e professando
Pessoas em Camões e Caminhas
Mas essas adivinhas e lorotas
Peças que a seriedade nos prega
Estão a ver navios como os que não vi

Pois o pouco que sofri
Foi de não ter sido milionário
Foi de não ter sido operário
Foi de não ter sido um milhão
Que sempre quis ser

Agora poeta da própria ausência
Declaro aberta minha falência   

Um comentário:

O Menino da Peneira disse...

que texto lindo.