24 de junho de 2013

BALADA DO DESENCANTO

Estranhamente o homem curvado
não sentia apenas a dor da pancada
sentia no corpo toda dor do mundo
e na cabeça uma tristeza ampliada
pelo sofrimento de seus camaradas

Internamente o homem alquebrado
não sentia as próprias vistas toldadas
ainda tentava entender tudo admirado
com o calor dos olhos apimentados

esteticamente o homem da barricada
era um conjunto de membros dobrados
estranha aranha tosca quase esmagada
fugindo de si para o calor da calçada

penosamente pobre homem improvisado
nadando vermelho no sangue espalhado
era menos ameaça à ordem constituída

historicamente o homem fotografado
na intimidade daquilo que acreditava
queria uma vida melhor a que levava
com muito amor e um céu enluarado
um violão cantigas de povo educado

Em sua mente cavalgando na utopia
esse homem pensava salvar a minoria
do jugo da galhofa e do preconceito

mas de revolução não entendia direito
repetiu coisas estranhas e sem sentido
dessas de fazer rir e de doer o ouvido

abaixo os partidos ele mesmo partido
ao meio no meio do meio-fio rachado
abaixo tudo e querendo tudo abaixado

não percebeu ser instrumento contrário
à revolução pretendida e tão sonhada

suástico em sua triste pequena jornada
incorporou o mártir do golpe nazifascista
e nesse dia tornou-se capa de revista

pensando bem no triste homem derrotado
e nessa coisa de fábula ter apenas animais
penso que ainda assim nunca é demais
tirar daqui uma lição e um bom recado

se for fazer protesto só por estar entediado
é melhor ler qualquer livro mais adequado
que ganhar jogando e defendendo time errado

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