30 de agosto de 2013

Diários da danação I


hoje o suicídio
deixou os lençóis intactos
não dormiu em casa comigo
deve ter saído de bar em bar
procurando vítimas sem potencial

é prematuro dizer que a cura
existe e que o desejo das arestas
e a vertigem da autopiedade
resolveram me abandonar
serei menos completo assim

espero que a dúvida
não seja uma substituta
ainda mais faminta e cruel
mas sinto falta da sensação
de poder acabar com isso

hoje o dia nublado
não me enganou em nada
escondido e radiante me observa
cada passo indecidido
entre o carro e o elevador

de carro posso ir ao muro de pedra
a cento e cinquenta quilometros por hora
e pensar sentindo as ferragens
se comprimindo eu consegui
exultante ou duvidando não importa

ou posso voar como nos sonhos
como uma flecha envenenada de si
e de realidade
sobre as insignificantes formiguinhas
da calçada

e ironicamente rebentar numa gargalhada
do chão eu não passo

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