9 de abril de 2012

Já cheguei ao momento de ter
nas ruínas da mente
fantasmas indecorosos
cujas partes desnudas
se parecem com memória

Não permitir que copulem
nem se reproduzam à vontade
é um modo cruel de encarar o futuro

Já não há cheiros nos pedaços de lençol
que cobrem o pouco a ser coberto
e seus gemidos assustam
pela crueza com que denotam
a racionalidade

Suas mentiras são um pouco minhas
também
e crer me fazem
que cada espasmo vivido
tem seu preço no mercado
de sonhos e irracionalidades

ficar acordado é um modo
de tentar ludibriar o inefável
mesmo quando tudo (não) faz sentido

e por isso me quedo
meio corpo sem calma
mas no meu corpo
existem vácuo e solidão

O meu corpo
tem o vazio de alguém
que é o meu também

eu que já me arrastei nas paredes
tentando tirar seu gosto
da minha carne
percebo nas cicatrizes
que não há redenção nas palavras
nem nas promessas

volto meu coração ao autismo
de sua própria brutalidade
e me vejo encenar sombras de poemas
que não concebi

3 comentários:

Elimacuxi disse...

Pata que pariu Roberto!
"'boratomáuma,'bora?"

Elimacuxi disse...

ah como desce mal esse gole
antes queimasse feito cachaça
antes doesse feito pedaço
grande demais
mas não.

como desaprender
e se desprender
desses séculos de amor
que nos envolvem?

por ora o amor des-envolve-se
e as novas formas
parecem devolver a tudo
o acordo frio
calculado
seco
de muito outrora.

antigos
eu e você gostamos da queda
do soco no estômago
do susto que é amar
solidamente
e do risco de dar
de cara na pedra
do gesto repetido na ponta da faca.

para nós não se indica
o amor líquido, não:
é certeza de mais ressaca
e menos alucinação!

Isabella Coutinho disse...

sabe, eu li isso no dia mas desceu rasgando. hoje também, mas acho que como a garganta já estava arranhada não senti muito a dor; mas a mera lembrança bastou. doeu também. me chamem pra beber.
grata.