17 de junho de 2010

com.com

Os dias e as horas
Vagam infames
Entre games
E distritos virtuais
Não há mais inibição
Nem medo

O fingidor agora
Tem alteridades
E não há verdades
Inteiras que não tenham
Mais uma metade

A esquizofrenia em rede
Domina o solitário
Exponencialmente
E ele cria mundos
onde escreve lê pensa
de diferentes modos
Nos tornamos nossos
Próprios godos visigodos
E outros engodos mais

Não há mais privacidade
No próprio templo
O analista
Os pedagogos
O ginecologista
Os amantes
Os piercings
E até as mídias
Como vikings
Aportam em cada poro
Etéreo
--------venéreo
----------------virtual
de lado a lado

O ser humano --------- enfim
Está superpovoado

Um comentário:

Sandálias do Outono disse...

Roberto,

a ideia do ser humano superpovoado é fantástica! Gostei muito! E também é verdade que, para o bem e/ou para o mal, “não há mais privacidade no próprio templo”. Para além da crítica cibernética, a forma como as imagens, os pensamentos, os links e as palavras estão dispostas lembra os gestos de um pedreiro sentando o reboco sobre a parede de uma construção, com a colher bem cheia a respingar cimento para todo lado. Isso porque o gesto ritmado da mão do operário coincide com o ritmo do trabalho poético desse texto. Li várias vezes em voz alta do alto dos meus andaimes.

Cerca de um ano atrás escrevi um poema urbano, que não aborda, como o seu, o ciberespaço, mas lembra na forma de composição:

palimpsesto urbano

a cidade cresce no consolo
do abraço eterno do guindaste
traz no sangue ocre do tijolo
toda olaria do contraste

grande colméia de abelha
com favo de homem na altura
o tempo por cima das telhas
andaime de humana loucura

a carne e a pedra se amam
num jogo de lábio e dezembro
os fios invisíveis se tramam
em pontos que ainda lembro

eram casas com mil quintais
infância plantada no chão
figueira com iniciais
segredos de um coração

noites de madrigais
passeios à beira-mar
amores feitos no cais
feitiços sob o luar

me pega pela cintura
provoca os meus sentidos
completa minha aventura
explora meus sustenidos

e me deixa cantar o progresso
de cada parede vazia
e me deixa amar em excesso
as marcas são fugidias

(charles silva)