18 de junho de 2010

Tenho muitas metades
Imaginadas Assim como
Tenho muitas vontades
Tramadas em narrativas
Ainda não iniciadas

Tenho iniciativas que
Não tomei no momento
Certo e uma incerteza
Voraz que me impede
De lamentar o que perdi
Ou o que nem tive ainda

Tenho uma vida que
Queria fossem muitas
Como as de um gato
Tristonho diante da lua
Ou como a rua indefesa
Diante do tráfico de
Olhares e desejos

Tenho muitas metades
Dispersas em calamidades
E abusos de autoridade
Ou autorias e tenho minhas
Vias respiratórias con
gestionadas pelos cheiros
dos prazeres e precauções

Tenho metades
Mas não tenho razões
para suspeitar de minhas
-------------------Integridades

2 comentários:

Sandálias do Outono disse...

tenho muitas metades
inanimadas
assim como
tenho muitas vontades
tramadas em narrativas
ainda não iniciadas (*a palavra “inanimada” ganha força por oposição a “vontades”)

tenho iniciativas que
não tomei no momento certo
e uma incerteza
voraz que me impele
a lamentar o que perdi
ou o que nem tive ainda (*É bem verdade que a incerteza é paralisante. Mas acho mais poético salientar que ela impulsiona, impele a fazer algo, no caso, a lamentar tanto o passado quanto o futuro)

tenho uma vida que
queria fossem muitas
como as de um gato
tristonho diante da lua (* eu achei essa imagem linda! Pafúncio?!)
ou como a rua indefesa
diante do tráfego de
olhares e desejos (*Já que a rua está personificada, a ameaça é do tráfego e não do tráfico, pois este seria uma ameaça social. É o tráfego que faz a rua indefesa).

tenho muitas metades
dispersas em calamidades
e abusos de autorias
e de autoridades
e tenho minhas
vias respiratórias
congestionadas pelos cheiros
dos prazeres e predações (*Sugiro “autorias” antes de autoridade para evitar as sucessivas “ades”. Sugiro também a troca do “ou” pelo conectivo “e”. O vestígio do concretismo aqui não me agrada, por isso juntei a palavra “congestionadas”. Acho que as “predações” cheiram mais que as “precauções”, embora compreenda que esta palavra faça a antítese da outra. Mas prazer e predação andam sempre juntos).

tenho metades
mas não tenho razões
para suspeitar de minhas
integridades (Não gostei dessa estrofe, nem da ideia, nem do desfecho. Da leitura até aqui depreende-se, naturalmente, a inteireza do poeta. Não há necessidade de afirmar não ter razões de suspeitas e muito menos reafirmar “tenho metades”, pois isso já foi dito duas vezes. Até aqui já foram cinco “ades”. Hades, aliás, na mitologia grega é o deus dos mortos e seu nome significa “o invisível”. Entretanto, observo que ao dar visibilidade ao nome desse deus o poema ganha uma carga emotiva magnífica, resultando num mantra para evocar Hades. Caso queira apostar nessa possibilidade, há uma variedade de crueldade e fatalidade que talvez lhe agrade. Felicidades! rs)

Charles.

Leonor Cravo disse...

Nós não temos a coragem de assumir que temos muitas metades.
Perfeito!



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