19 de fevereiro de 2012

Hoje não sinto vontade de montar nesse velho pangaré que é o mundo. As beiradas me chamam para o café da manhã com possibilidade de queda. Minha sina transborda os poros e sou só eu esticado no curtume das horas. Quero gritar seu nome, mas minhas cordas vocais ocupadas sustentam criticamente as mentiras que preciso esquecer. Paraísos artificiais me acossam num espaço tempo sem travas e eu preciso procurar um banheiro com um pouco de racionalidade. É a ditadura do corpo, perdendo erres e me fazendo dar etílicos mergulhos no idílico de nossas memórias. Já não preciso disfarçar minhas quedas abrindo as asas como um pavão apavorado. No desarrumado da solidão, esqueci Ariadne me esperando, sentada, nua, na sala. Pensei empenhar minha sanidade na Caixa Econômica; comprar aveia e um paraquedas. Ainda estará lá, a doce Ariadne? Alguma coisa se embaraçou no meu pé; acho que vou cair de novo. Preciso cortar algo; a linha, as cordas, tudo o que disse é verdade. Tudo o que sou despenca das cordas vocais, num banheiro fétido, quebrando as asas. Acho que Ariadne vai ter que esperar na caixa econômica onde deposito minha solidão em poupança. É inútil lutar contra a queda. Com juros e correção posso emendar a corda, seguro a xícara, as rédeas, as cordas vocais, ou a beirada? A queda parece cair de moda de tão demorada. Você e Ariadne na sala desembaraçando as asas. O pangaré cheira mal como a memória.

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