25 de fevereiro de 2016

Minto descaradamente diante do espelho
Não quero ver os brancos que o tempo plantou
Em vez disso coloco-os na memória
E o tempo voa e os fatos fogem numa espiral
Agora tenho vinte e cinco anos quero surfar
Viajar pelo caribe no meu jipe azul-burguês
Ou ter vinte e cinco virgens que me deflorem
Pétala por pétala de um bem mal querer
Careço de uma espingarda de matar elefantes
Como as que Hemingway teria
Mas acho que gostaria de não ter a sensibilidade
De sentir as paquidérmicas dores que os dias trazem
Esse negócio de vestir - se do outro
Também é doído que só
Aguda é tudo o que a inteligência se torna
Nesse entra e sai de alteridades
Ou obtusa de tantas peles acumuladas
A ficção dos dias que sou implora por uma pausa
Para acertar a vida refazer o que precisa ser feito
Passar a limpo os borrões e terminar tarefas
Podar rosas talvez fosse bom e justo
Mas acho que acabaria por matar as roseiras
Não adiantaria de nada esse eterno fingimento
Não sou artista dos jardins alheios
Desejo o caos e as manchas disformes
Sem alamedas e simetrias
Meu verso e meu avesso coincidem no infinito
Esse é meu ponto de fuga e minha fugaz alegría
Preciso ser servil e ser algoz
independentemente de convenções
Talvez assim as mãos de que careço
Apesar do meu reflexo deturpado
Conheçam meu endereço

Nenhum comentário: